terça-feira, 25 de outubro de 2011

Parto normal ou cesárea? O que toda mulher deve saber (e todo homem também)


DINIZ, S. G.; DUARTE, A. C. Editora UNESP, 2004. 179p.


A cesariana é a cirurgia de grande porte mais freqüentemente realizada nos Estados Unidos e (também) a mais freqüente cirurgia realizada sem necessidade. Hoje em dia, cerca de uma em cada quatro mulheres que ultrapassa as portas de um centro obstétrico será submetida a uma cirurgia abdominal de grande porte. Muitas dessas operações, que apresentam riscos de complicações maternas, inclusive morte, maiores que os partos vaginais, são medicamente desnecessárias. É impensável que a cirurgia cesariana desnecessária seja cotidianamente realizada em milhares de mulheres, esbanjando valiosos milhões de dolares dos serviços de saúde, enquanto quase 40 milhões de americanos não têm acesso aos serviços básicos de saúde. (Gabay & Wolfe, 1994, p.7. tradução da autora da resenha)
O relatório Unnecessary Cesarean Sections - Curing a National Epidemic, publicado pelo Public Citizen's Health Research Group (1994), também denunciava que, dos 3.159 hospitais para os quais havia dados disponíveis, a mais alta taxa de cesáreas encontrada era de 63,7%, seguida de outro hospital com taxa no valor de 57,1%. Referia, por outro lado, a satisfação de haver encontrado ao menos noventa hospitais notoriamente recomendáveis: esses apresentavam taxas de cesárea inferiores a 15% e taxas de parto normal após cesárea (PNAC) iguais ou superiores a 45%.
Se no hemisfério Norte valores assim elevados de cesarianas são considerados ultraje ao bom exercício da Obstetrícia - que podemos dizer de nosso país? Terá essa epidemia migrado para nossas plagas? Teremos conseguido impedir que nossos profissionais se 'contaminem' dessas práticas inadequadas?
Infelizmente, a situação aqui é ainda mais grave: já há algumas décadas essa epidemia 'contagiou' nosso país, e pesquisas mostraram que a prática obstétrica em nossos hospitais não é nada exemplar - ao menos no estado de São Paulo, houve hospitais que chegaram a praticar taxas de até 100%!!! (Rattner, 1996).
Apesar das medidas adotadas pelo governo federal e até por alguns seguros-saúde para coibi-las, o número de cesáreas desnecessárias continua a ascender, mostrando que outras estratégias, além das governamentais e coercitivas, se fazem necessárias.
É inquestionável que a indicação de cirurgia é atribuição dos médicos. Mas até que ponto as mulheres não foram involuntariamente cúmplices, por absoluto desconhecimento de como seu corpo funciona e de qual a lógica que subjaz no aconselhamento profissional que muitas recebem durante o acompanhamento pré-natal? Ou por terem embarcado na 'moda' de que cesárea é parto 'tecnologicamente avançado'? Mais prático, não requer preparação, é possível agendar, e outras 'vantagens'?
Mulheres (e homens!) agora já podem contar com muita informação, e informação é poder! É o poder de compreender o que se passa para poder fazer escolhas sobre o que é melhor para si e para poder negociar, com o profissional que a acompanha, como deseja que seja atendido o seu parto - de forma esclarecida e consciente. Este singelo livro é o mapa da mina para quem anda em busca do bom parto!
Vale a pena lutar por um parto normal depois da cesárea? p.133
O livro elucida em linguagem acessível os mais recentes avanços do conhecimento: esclarece os fundamentos da medicina baseada em evidências científicas; comenta sobre o contexto da atenção ao parto em nosso país; em linguagem coloquial, por meio de perguntas e respostas, vai, pouco a pouco, iluminando o trajeto para quem busca saber mais: Como é a dor no caso da cesárea? Por que o parto dói? O que é a dor provocada pela assistência ao parto (dor iatrogênica)? O que é mais seguro, para a mulher e o bebê, o parto normal ou a cesárea? Por que, no Brasil, não se informam adequadamente os riscos da cesárea ou dos procedimentos usados no parto? Por que é importante manter o perineo íntegro no parto? O que deixa a mulher mais satisfeita: o parto normal ou a cesárea?
O que me dá pânico de parto é pensar em cortar minhas partes mimosas. Toda mulher tem que fazer o tal pique para o bebê nascer? Se for preciso cortar embaixo, prefiro uma cesárea. p.95
Adotando um tom bem humorado para suas explicações, vai desvendando de quem deve ser o protagonismo no parto, se da mulher e seu bebê, ou do profissional - e como pode ser em cada caso. Numa perspectiva feminista, de empoderamento feminino, vai sendo constituído o cenário para o parto do seu desejo: com presença de acompanhante? De doula? Onde? Qual profissional prestará assistência? Como fazer a lista de expectativas (plano de parto)? Como negociá-la com o profissional? Quais são os sinais de que o profissional tem escuta para essas expectativas e pretende atendê-las? E quais os sinais que apontam para o oposto?
Em meu livrinho de convênio há quase cinqüenta nomes de médicos. Se eu marcar uma consulta por semana, vou chegar no final da gestação sem conhecer todos eles. Como encontrar um bom profissional de saúde para me acompanhar na gestação e no parto? p.69
Por outro lado, não omite que, às vezes, a cirurgia pode ser indicativa, essencial para o sucesso da finalização de uma trajetória de nove meses de espera. O capítulo 'Quando a cesárea é necessária' informa de forma honesta e sem o subterfúgio do linguajar técnico as ocasiões em que a cirurgia deve ser indicada, ao mesmo tempo em que aponta alguns dos artifícios adotados por maus profissionais para induzir a mulher a acreditar que a cirurgia se fez necessária (falta de dilatação, bacia muito estreita, bebê muito grande, gestante jovem demais (adolescente), gestante idosa demais...
Esta semana encontrei uma amiga e ela disse que o médico recomendou uma cesárea porque o bebê estava com o pé enganchado na costela dela. Mas se o bebê está no útero, como o pé dele estava preso na costela? Juro que não entendi. p.119
É de forma bem carinhosa que as autoras introduzem o homem - o companheiro - no cenário: "a participação do parceiro não deve ser pensada como um dever, uma obrigação, mas como um direito, que pode ou não ser exercido". No mesmo estilo coloquial e bem humorado vão sendo oferecidas respostas aos questionamentos que porventura o parceiro possa colocar. No contexto atual de recente sanção do Presidente à tão aguardada Lei do Acompanhante - Lei 11.108 de 7 de abril de 2005 -, esse capítulo é um grande recurso para esclarecer e dar segurança aos companheiros que desejam ser mais participantes. Saliente-se, todavia, que a lei dispõe que o/a acompanhante será a pessoa de escolha da mulher - contemplando mulheres que eventualmente não tenham companheiro.
Gostaria muito de estar no parto. Aliás ela está me cobrando isso. Mas passo mal só de estar em um hospital. Tenho medo de desmaiar na hora. Isso aconteceu com um amigo meu. Não é coisa de boiola, para outros assuntos eu sou muito macho. p.149
Diferentemente do livro do insigne escritor Michel Odent - também lançado recentemente (2004), um outro excelente recurso que aborda questões referentes à cesárea, principalmente nas perspectivas antropológico-cultural, obstétrica, primal (da sabedoria instintiva primitiva) e reflexiva - este é um guia eminentemente prático, com respostas claras às questões que podem afligir quem busca uma vivência enriquecedora do nascimento de sua criança. Ao final consta um glossário de termos do âmbito médico e uma lista de outros recursos de informação, como livros, vídeos e páginas da internet recomendadas: recursos eletrônicos disponíveis para quem busca mais informações para consusbstanciar uma decisão consciente e informada. Com 179 páginas e preço bem acessível (R$ 22,00), em breve se tornará referência constante para casais (e, possivelmente, para profissionais de saúde abertos a questionamentos da prática obstétrica atual). Se a consumidora tem sempre razão e muitas mulheres decidirem que não abrem mão da vivência enriquecedora de um parto normal, com tudo o que lhes é de direito, certamente este será o "ponto de mutação" das curvas ascendentes de nossas taxas de cesarianas desnecessárias.
Enfim, como consta na capa posterior, este livro
valoriza as dimensões saudáveis, positivas, emocionantes e belas da experiência do parto, para que não seja vivido como uma tortura imposta às mulheres pelo pecado original ou pela natureza, mas, sim, como uma experiência emocional, social e corporal saudável, uma aventura humana que pode ser vivida com segurança graças às técnicas disponíveis.
Ou, como também foi comentado por Maria Cecilia Dias de Miranda (2005), a respeito do lançamento: "É mais do que um livro, um coringa para trazer no bolso. Tudo aquilo que precisávamos para virar a maca, quero dizer dobrar a mesa."

Referências
GABAY, M.; WOLFE, S.M. Unnecessary cesarean sections: curing a national epidemic. Washington (DC): Public Citizen's Health Research Group, 1994. (brochura)
RATTNER, D. Sobre a hipótese de estabilização das taxas de cesárea no Estado de São Paulo. Rev. Saúde Pública, n.30, p.19-33, 1996.
ODENT, M. A cesariana. Florianópolis: Saint Germain, 2004.
MIRANDA, M. C. D. Lista de discussão. Disponível em: <rehunabrasil@yahoogrupos.com.br>. Acesso em: 23 mar. 2005.


Recebido para publicação em: 13/05/05.
Aprovado para publicação em: 20/05/05.
 

14 comentários:

  1. A medicina hoje está fazendo partos cesária como se fosse normal... alguns médicos nem atendem pacientes que querem fazer parto normal... isso acontece na minha cidade! Acho um absurdo, a cesária é muito mais perigosa do que o parto normal! Enfim, o normal é normal né!!

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  2. o problema não é tanto a mulher saber...mas sim os medicos aceitarem a decisão da mesma..

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  3. Ainda no Brasil existem muitas mulheres sem informações corretas tanto no que diz respeito ao periodo de gestação quanto a própria saude da mulher.

    KAMILA ROSA

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  4. O parto cesárea é visto como o normal.Cabe a nós futuros enfermeiros a mudança dessa 'ideologia'e tornar o normal,normal mesmo! Mas é claro que a colaboração de outros profissionais ligados diretamente ao parto seria de extrema importancia!

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  5. O parto cesárea é visto como o normal.Cabe a nós futuros enfermeiros a mudança dessa 'ideologia'e tornar o normal,normal mesmo! Mas é claro que a colaboração de outros profissionais ligados diretamente ao parto seria de extrema importancia!

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  6. O que acontece... O médico recebe mais ao fazer uma cesária do que ao fazer um parto normal...
    Então é possível chegar a conclusão do porquê que os médicos indicam tanta cesária!!!

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  7. Concordo com os demais colegas, e acredito que tudo começa na mudança de algumas políticas de saúde em específico para a saúde da mulher, como um colega citou tem que ter incentivo e acontecer à desmistificação do parto normal. Situação que aflige tantas mulheres, porque já ouviu um caso que uma amiga contou que o parto normal não deu certo ou acabou com a vida pessaol.

    É um absurdo, mas temos que trabalhar para melhorar esse quadro!

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  8. O parto normal tem vantagens sobre a cesariana. O corpo da mulher foi preparado para isso, a recuperação é muito mais rápida, há menor chance de hematomas ou infecções, menor risco de complicações para a mãe e menor chance de dor pélvica crônica. é de suma importância que encoragemos as GT durante o pré-natal ofertando informações sobre o assunto e retirando dúvidas e tabus...

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  9. É preciso realizar ações educativas, assim como existe de diabetes, hipertensão, drogas, nos PSFs, deveriam ter açoes voltadas para a conscientização das mulheres mostrando o benefício do parto normal,em quais situaçoes deve-se optar pela cesárea, riscos. Falta informação!
    Lídia Prado.

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  10. O problema é que no Brasil a cesárea ainda é, muitas vezes, classificada como uma cirurgia eletiva, e não de urgência. O parto, antes natural, torna-se então um procedimento de alto risco, aumentando o número de infecções, internações, dentre outras desvantagens. É preciso conscientizar a gestante sobre tais prejuízos, visto que a escolha por cesárea deve-se, em grande parte, pelo receio da "dor do parto".

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  11. È preciso primeiramente haver mudanças entre os profissionais envolvidos no parto, principalmente os médicos, que contribuiram muito para a grande quantidade de cesárea que temos atualmente, pois somente assim a população, principalmente a gestante, irá exergar as inúmeras vantagens que o parto normal tem sobre a cesárea!!!

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  12. A maioria das mulheres não tem informação necessária e correta sobre o parto normal,pensam em apenas não sentir dor, acho que pra quebrar esse tabu de cesária deve-se investir nos profissionais da área, para que esses orientem suas pacientes a fazer sua escolha consciente de todos riscos e benefícios dos dois tipos de parto.

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  13. As cirurgias viraram moda, e o fato do parto cesário ter um custo maior é confundido com um maior benefício também, pensando nisso muitas mulheres optam pela cesariana. Falta mesmo é informação, existem muitos tabus em relação ao parto normal como os de estética e funcional. Além disso, os médicos favorecem a adesão da cesariana, por causa do lucro. É preciso uma reeducação e conscientização de toda a população sobre o parto normal, seus benefícios e maleficios também.

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  14. É complicado pois tanto o parto normal como a cesária geram dores, um no momento e o outro após o nascimento do RN. Entretanto sabemos que o parto normal é benefico para mulher e para o RN em diversos aspectos, como amamentação, recuperação, saúde do RN, etc. É preciso dar mais informação a gestante durante o pré-natal, ja que é o momento que ela tem contato com os profissionais da saúde e está em reflexão sobre o momento do parto. E explicar a ela que as vantagens recompensam a dor. E acima da informação a gestante, é necessário melhor preparo da equipe multidisciplinar no momento de receber a gestante em trabalho de parto e promover uma melhor visão do parto normal a esses profissionais.

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